Agora é você no Canadá
Dec 31, 2018Minha filha completou 3 anos de idade em julho deste ano e ela está naquela fase que só sossega quando vai dormir, o dia inteiro correndo, pulando e dançando.
Parte da minha rotina diária é levá-la ao playground aqui perto de casa. Enquanto a maioria dos pais dão mais atenção aos seus smartphones, eu prefiro participar da brincadeira ou também simplesmente observá-la nas suas novas empreitadas.
Este Texto foi originalmente publicado em meu blog em 2014 (link original) Nada melhor do que aplicar o mesmo conceito agora em 2019
Semana passada ela resolveu experimentar um novo brinquedo no parquinho. A primeira tentativa foi frustrada e ela caiu. Na segunda, caiu novamente. Terceira tentativa novamente falhou. A determinação era tanta que a quarta tentativa foi um quase sucesso.
Na quinta vez, ela conseguiu. Veio correndo em minha direção para contar seu sucesso e a felicidade estampada no rosto dela eu não conseguiria descrever em palavras. Ela pulava de alegria, orgulhosa de sua conquista e queria compartilhar comigo.
Os erros foram silenciosos e a conquista uma festa barulhenta. Ela não culpou o brinquedo ou seu chinelo pelo fracasso. Ela sabia que precisava melhorar ou tentar algo diferente.
A partir do momento que a gente cresce, há uma perda dessa perspectiva de ver as coisas e enfrentar novas desafios. Ficamos com receio de enfrentar novos obstáculos e pior, ficamos com medo de tentar.
O seu sonho canadense vai exigir de você essa atitude de criança…
Nos últimos 10 anos pude observar esse medo nos e-mails que recebo aqui no Canada para Brasileiros. Muita gente (para não dizer a maioria) desiste do sonho canadense antes mesmo de tentar, com medo da falha e insucesso.
Algumas pessoas desistem em questão de horas, outras em dias e o restante meses.
Uma minoria segue firme na missão de levar o plano adiante. “Levar adiante” não siginifica necessariamente “imigrar” mas pelo menos continuar tentando, planejando, pensando em alternativas e colocando as coisas em prática.
Imigrar para o Canadá pode exigir de você silenciosas tentativas sem sucesso. Ao invés de culpar as regras de imigração ou fatores externos, pense “o que eu posso fazer de diferente?”
Mais ou menos 20 anos atrás…
A minha primeira viagem ao exterior aconteceu quando eu tinha 13 anos de idade em uma viagem aos Estados Unidos com minha família. Desde que voltei daquela viagem uma coisa estava clara na minha cabeça: “Eu preciso sair do Brasil”.
Nos anos seguintes essa idéia não saía da minha cabeça e volta e meia eu comentava com meus pais sobre essa vontade. A minha primeira tentativa foi quando eu estava prestes a entrar para o colegial e perguntei aos meus pais se eu poderia fazê-lo nos Estados Unidos.
De bate pronto recebi um “Não, não é o momento, você é muito novo , espere um pouco mais”.
Dois anos mais tarde antes de iniciar o terceiro colegial, lá fui eu novamente “jogar o verde” para meus pais de que seria uma boa se eu terminasse o colegial nos Estados Unidos.
Novamente a negativa: “Caio, ainda não é o momento. Termine o colegial e a gente conversa depois”.
Ok, sem problemas mas não desistirei.
No momento da faculdade, mais uma tentativa frustrada mas vi uma luz no fim do túnel: “Caio, a gente apoia você a sair do Brasil mas ainda achamos que é um pouco cedo. Faça a faculdade aqui no Brasil e aí você vai mais preparado, no momento certo”. Nesta época eu não queria mais ir para os Estados Unidos, eu tinha ficado apaixonado por Vancouver quando visitei em 1997 e era aqui que eu queria morar.
Problemas escolares sempre estiveram presentes durante toda minha infância e adolescência. Na faculdade não foi diferente e meu desinteresse pelas aulas foi crescendo a cada semestre. Eu me sentia no lugar errado. Eu adorava trabalhar no ramo, mas odiava frequentar as aulas.
Em um desses momentos de “frustração acadêmica” somado a outro de violência nas ruas brasileiras, resolvi colocar um ponto final nisso e iniciar uma nova página na minha vida. Decidido pensei “Chega, Agora eu VOU! ”
Nas semanas seguintes mergulhei na internet em busca de informação, fiz meus cálculos, coloquei tudo no papel e cheguei para meus pais (nunca vou esquecer esse momento, 20h30 depois de um jantar em casa) e falei “Tenho uma coisa para conversar com vocês”
Naquele momento notei expressão dos meus pais; eles já sabiam o que eu tinha para falar. Estava claro.
Depois de 20 minutos explicando meus planos e mostrando meus cálculos, eles finalizaram com “Ok, tudo bem, pode contar com nosso apoio”
Naquele momento eu já havia explicado a eles que estaria trancando a faculdade (o que eu não acho que foi uma surpresa, afinal eles conhecem o filho que tem) e disse que iria enviar um email para meu ex-chefe pedindo meu emprego de volta (eu havia pedido demissão 6 meses antes).
Início da Batalha
No dia seguinte enviei um e-mail para meu ex-chefe e deu tudo certo: consegui meu emprego de volta. Na mesma semana fui na faculdade e tranquei minha matrícula, não consigo descrever em palavras aqui o alívio que senti nesse dia.
Os 18 meses seguintes foram meus últimos como morador do Brasil. Não foram meses fáceis, trabalhava 12 horas por dia, fiz freelancer para juntar mais dinheiro, cobri finais de semana dos outros empregados no meu departamento, trabalhei por 60 dias sem sequer um dia de folga, vendi coisas que eu não iria trazer na minha viagem, cortei gastos extras…
Faria algumas coisas diferentes mas é injusto julgar com a cabeça que tenho hoje em dia, 12 anos depois. Mas não me arrependo de nada.
Não tenho como terminar esta história sem agradecer meus pais por acreditarem confiarem em mim e me apoiarem durante essa jornada. Obrigado.
“O Brasil vai melhorar”
Desde 1992 essa foi uma frase que ouvi dezenas de vezes quando demonstrava essa vontade em sair do Brasil. Desde aquela época até 2004 (quando cheguei no Canadá) observei que o Brasil só tinha piorado. De 2004 até os dias de hoje, o país piorou mais ainda.
Sempre que ouvia essa frase, eu confiava mais na minha opinião e na dos meus pais. Muita gente não quer que você saia e os motivos são simples: inveja, ciúmes ou saudade, esta última ocupa uma parcela MUITO pequena de todas elas. Quem gosta de você, apoia.
“Por que você quer ir embora? você tem uma vida ótima aqui!”
Sim, eu tinha, concordo.
e daqui 10 ou 20 anos? É esse o ambiente que eu quero construir minha família? Infelizmente segurança, educação e liberdade profissional não é o ponto forte do Brasil e na minha cabeça eram prioridades.
O que eu quero dizer com esse post é:
- Não desista sem tentar
- As vezes você precisa de mais de uma tentativa
- Você precisa planejar e abrir mão de muita coisa por um tempo
- A recompensa é enorme; mas pode levar um tempo
- Não se influencie pelo o que os outros falam. Dê ouvidos apenas aos que te apoiam.
- Se um dia o Brasil tiver uma qualidade de vida comparada com a do Canadá, certamente não será nessa geração (nem na próxima…)
O seu maior inimigo nesse projeto é seu medo de tentar? Quais são suas preocupações? Comente abaixo.
Este Texto foi originalmente publicado em meu blog em 2014 (link original) Nada melhor do que aplicar o mesmo conceito agora em 2019